domingo, 20 de março de 2011

10 Dias em San Martin de Los Andes

Destaques

Vou apresentar aqui os principais tópicos que causaram impressão forte e permanente nessa viagem a San Martin. Muitos outros tópicos não estão cobertos, e espero que consigamos escrever sobre eles posteriormente, como a gastronomia, as inúmeras trilhas de mountain bike e trekking, etc.

Creio que a Jane irá iniciar a escrever logo sobre isso. Estes são os meus destaques iniciais.

Sucessão infindável de surpresas


Quando eu tento descrever todas as sensações que a gente experimenta quando desfrutando San Martin, os sentimentos são de tal forma impactantes que nada mais me ocorre além de clichês. Clichês que dizem que palavras são insuficientes. Mas são, realmente.
Paisagens


Durante os dez dias que lá estivemos, cada um deles foi muito rico em descobertas, cheio de imagens incríveis que são impossíveis de esquecer.

A paisagem é indescritível, com lagos e mais lagos de água limpíssima e azulada, rodeados de ciprestes milenares e muitas outras árvores multicoloridas; áreas enormes de roseiras no mato (sim, lá roseira é mato), junto com amoras silvestres (comemos até enjoar); animais silvestres (eles chamam de fauna autóctona) diversos, como lebres, falcões e águias, ou alpacas e lhamas, tão desacostumados à belicosidade humana que nos deixavam aproximar a poucos metros; rios de lava negra de poucos séculos; vulcões extintos mas ainda magníficos; enfim, como eu disse, uma sucessão infindável de surpresas incrivelmente belas.

Ainda sobre clichês, fotografias são incapazes de transmitir toda a beleza e conjunto de sensações que nós, fotógrafos ocasionais, tentamos transmitir. No máximo as fotos conseguem reproduzir uma parcela pequena da magnitude daqueles momentos congelados. Mas não há nada ainda que possa transmitir mais do que as fotos, mesmo que estas representem pouco.
Tiramos cerca de 1200 fotos no total. Fizemos uma seleção das melhores fotos e criamos alguns álbuns no Picasa.

Curiosidades

Adrenalina


Alugamos um Corsa Sedan para andar por lá. Nesses dez dias, percorremos 1300km. Carrinho valente. A única sequela foi ter perdido a placa dianteira, ainda não sabemos como, pois a placa é afixada bem alto no paralama plástico que estava aparentemente intacto. A placa caiu quando eu atravessava um riacho com o leito coberto de pedras (todos lá são assim) e só fui ver a placa no fundo do riacho depois de voltar e olhar para o riacho. Digo carrinho valente porque não tive nenhuma pena dele muito menos qualquer reserva com relação à danos e uso “radical”. E ele aguentou bem. Valente mesmo.

Ripio (cascalho), acho que deve pronunciar-se “ripío”, de arrepio. As estradas “ripio” na volta de alguns lagos, como o Lácar, parecem pistas de rally. Curvas e mais curvas, zigue-zagues intermináveis. Subindo e descendo o tempo todo. Algumas curvas são tão fechadas que chegam a ter bem mais do que 180 graus.

E os argentinos têm bem mais tradição de rally do que nós. Deve ser por isso que muitas dessas curvas são compensadas, muito bem compensadas, como se preparadas para andar rápido mesmo.

Falei à Jane para pensarmos em participar de provas de rally com caminhonete. Ela gostou da idéia. Como disse antes, a maioria das estradas de lá são de saibro com pedregulhos, que eles chamam “ripio”. Vimos umas três caminhonetes com as laterais toda amassada. Não há como não se entusiamar com o “brinquedo”.

Várias ocasiões eu ia me concentrando nesse brinquedo e aumentava o ritmo de forma constante até chegar ao meu limite e ao limite do carro. Muitas curvas com a traseira escorregando e as rodas de tração jogando pedras de forma enfurecida. O Corsa deve ter virado uma peneira por baixo. E o mais legal, a Jane é uma co-piloto excelente. Dava dicas na hora certa, mas não interferia negativamente em momento algum. Me sinto muito bem dirigindo esportivamente com ela, pois ela não manifesta nenhuma insegurança. Bem, quase nenhuma.

Mas comparada à maioria dos meus amigos...
Quando estes estariam gritando e me xingando, ela se mantém tranquila e conversando.
E quando a coisa esquenta mais, a ponto dos amigos terem tentado pular do carro mesmo em movimento, o máximo que ela faz é ficar calada e se agarrar em algo na volta. Mas não perturba em nada, por isso me sinto tão bem com ela e consigo me concentrar mais na estrada cometendo menos erros, mesmo que arriscando bem mais do que o costume.

Somando: carro alugado (flag do “dane-se” ligado), namorada também movida a adrenalina e essas estradas de “ripío”, só pode resultar em muita diversão e adrenalina. Para corações fortes.

Modelo de civilização


Eu poderia destacar a sensação contrastante que está no topo da minha mente agora, resultado da comparação entre San Martin e Buenos Aires, escala obrigatória (infelizmente) quando indo à San Martin via aérea. São planetas diferentes. Uma extremamente suja, embora dona de uma arquitetura impressionante, ainda que em geral mal conservada. A outra, exemplo de cidade para qualquer lugar do planeta. Ruas incivelmente limpas cujas calçadas (quase todas) são enfeitadas com roseiras muito floridas. O contraste é chocante. Foi muito chocante na volta. Mas vou concentrar em descrever o que há de bom, ou seja, em San Martin.

A arquitetura de San Martin também é impressionante, embora de estilo muito diferente de Buenos Aires. As ruas são largas, deixam o sol atingir os prédios o máximo possível. São raríssimos os prédios com mais de 2 andares, e uma exceção é um hotel abandonado que serve apenas de referência geográfica.

Como lá a madeira é abundante, reflorestada ou nativa, os prédios usam MUITA madeira. E madeira nobre. O hotel em que ficamos é totalmente em madeira, assim como muitas outras construções. A maioria delas entretanto, usa pedras e madeira, ao estilo europeu (modelo alemão e austríaco). A “colonização” é evidentemente germânica. Em quase todas as lojas se fala também alemão e diversas delas anunciam aulas de alemão para ajudar os donos de outros estabelecimentos comerciais.

Os moradores, assim como os visitantes, são extremamente educados. “Bom dia”, “com licença” e “muito obrigado” são as expressões mais usadas. O trânsito é lento e ordenado. Poucas sinaleiras e mesmo assim, muito organizado e seguro. Nas esquinas todo mundo pára e procura dar a preferência ao outro. Quando há pedestres fora da calçada, os carros param onde quer que estejam e esperam pacientemente.

Pra completar a idéia sobre o modelo de civilização, vou ilustrar com o relato de algo que nos ocorreu.

No nosso penúltimo dia lá, alugamos bicicletas para um passeio ao redor. Sim, há diversas lojas alugando bicicletas que aqui qualquer um babaria. Giants, Zeniths, Treks, etc.

Pegamos duas Zenith e saímos a pedalar. Antes de alugar as bicicletas, eu fui à loja escolhê-las enquanto a Jane arrumava as coisas no carro estacionado na rua, defronte ao “shopping” da loja. Ao sair do carro, eu coloquei a chave na porta do passageiro e avisei a Jane.

Gostei muito da bike Zenith, bem melhor que a minha GT, vou ver se compro uma dessas assim que puder.

Quando voltamos mais tarde, entregamos as bicicletas, pagamos o aluguel e voltamos à rua, onde estava o carro. Procurei a chave nos bolsos e não encontrei. Lembrei que havia deixado para a Jane e perguntei à ela sobre a chave. Ela respondeu que não a tinha. Olhamos o carro e caímos na risada. Porta fechada com a chave exposta para fora. E o carro com todas as compras e outras coisas em cima dos bancos.

Espero que esse relato ajude a completar a idéia sobre o tal “modelo de civilização” que tentei passar.


Prédios

Clima


Eu já tinha uma idéia do que nos esperava em termos de clima. Quando estive lá em Fevereiro de 2009, no acampamento em Laguna Verde, a temperaura foi de cerca de 20 graus à tarde a 5 negativos ao amanhecer do outro dia. Literalmente congelei na barraca.

Embora a temperatura e a umidade relativa variem numa amplitude muito grande para nós nesta região de POA-RS, não pode-se dizer que seja desagradável. Pelo contrário, em geral a temperatura é amena com tempo seco, bem seco. Proporcionando uma sensação de bem estar climático. Eu andei quase que o tempo todo de bermuda e manga curta, embora quem me conheça diga que não sou parâmetro para essas coisas.

Logo na chegada estava bem quente. Cerca de 28 graus à tarde nos primeiros dois dias. Depois veio uma chuva leve mas cujo tempo instável durou outros dois dias, trazendo bastante umidade. Quando o tempo limpou, ficou o friozinho característico (pegamos 4 graus às 9:30 da manhã) e com a umidade variando muito conforme o dia e nossos deslocamentos. Era a umidade quem influenciava mais a sensação térmica, pois os mesmos 10 graus Celsius poderiam exigir que eu colocasse um abrigo caso estivesse muito úmido, ao mesmo tempo que era agradável de manga curta com tempo seco.

No primeiro dia que tentamos ir às Termas do Lahuen-co, paramos num acampamento à beira do lago Curruehue Chico. Esses arredores são lindíssimos, sendo uma das imagens impactantes iniciais que nunca saíram da minha mente desde Fevereiro de 2009. Eu estava louco pra fotografar à beira do lago. Descemos do carro com uma chuva fina e muito vento, menos de 10 graus. Eu estava com camiseta de manga comprida e jaqueta de nylon. Fomos até a beira do lago tiritando de frio e logo ao chegar lá desistimos, correndo e rezando pra não congelar antes de chegar novamente ao carro. Muito frio mesmo, mas principalmente por causa da chuva fina (umidade intensa) e do vento forte. Logo depois disso, na estrada, registramos nosso recorde de baixa temperatura, cerca de 4 graus Celsius.

Mas no geral, nesta época do ano (Março), o clima é bastante agradável e seco. A estação chuvosa inicia em Abril e termina em Julho. Para esquiar, outra atividade que atrai muita gente a San Martin, a temporada inicia em Julho/Agosto e vai até final de Novembro.

2 comentários: